Friday, April 27, 2007

O-BA!

Depois de dias intermináveis de frio, vento, neve e chuva – um típico “aquecimento global” – nada melhor do que um dia de sol, muita gente jovem e Barack Obama para alegrar o meu domingo! Pois é, o senador veio fazer campanha na cidade de Iowa, como parte das comemorações do "Dia da Terra", que aqui no estado de Iowa está mais para o "mês da Terra", com diversas comemorações "verdes": Dia de se plantar uma arvore (plant a tree day), Dia de andar de bicicleta (bike to work e bike to school day), e por aí vai. Sentada numa grama verdinha, cercada por um público de 8 mil pessoas, ao som de U2 (porque Bono também é verde), esperei ansiosa durante uma hora pelo carismático político. Fiquei com os ombros e bochechas vermelhos, queimados pelo sol, mas valeu a pena. Foi uma experiência inesquecível!

Não fui a única a chegar cedo. Estudantes e moradores locais se acotovelavam em meio a sorrisinhos amarelos, tudo por um lugar mais próximo do palanque. E ao som de "It's a beautiful day" (nada mais propício, que a canção do U2 sobre um belo dia) esperavamos pelo senador, que chegou alguns minutinhos atrasado. Mas quando a música foi interrompida, e no microfone alguém anunciou "Ladies and gentlemen, senator Barack Obama!", o público foi à loucura! Todos de pé, aplaudindo, assobiando e gritando, enquanto o senador e pré-candidato do partido Democrata à Presidência dos Estados Unidos descia a ladeira, embalado pelo U2, sorrindo e apertando as mãos de seu eleitorado. Por alguns minutos eu não sabia se estava num show de rock, no meio de uma campanha política, ou se assitia ao filme Evita.

Carisma. Essa palavra é a primeira que me vem à cabeça para descrever o senador. Sim, pois antes mesmo de abrir a boca com suas promessas de campanha e críticas a atual política governamental, a simples presença do Obama já enebriava o público. Ele é alto, esbelto, bonito. Com um sorriso ao mesmo tempo simples e simpático. Comparado muitas vezes a Bill Clinton pelo seu caráter jovial, depois de vê-lo pessoalmente, acredito que Barack Obama está mais próximo a um híbrido de John Kennedy com Martin Luther King. Sim, ele é bonito e carismático, mas o seu tom sério, a fala pausada, a convicção com que traduz suas idéias, a preocupação com as minorias raciais, e suas propostas politicas, dão a impressão de que as coisas podem mudar sim, e cedem a Obama um quê de líder. Confesso que durante alguns momentos fiquei esperando ele dizer “I have a dream...” (eu tenho um sonho), célebre frase de Luther King que se tornou um marco na luta pela igualdade racial nos Estados Unidos.

O discurso de Obama foi uma viagem no tempo, onde ele narrou sua trajetória pessoal e política, para que pessoas da platéia que não eram muito familiarizadas com ele, pudessem entender melhor suas propostas, frustrações e convicções. O senador de Chicago disse ainda que, quando os boatos em relação a sua eventual candidatura começaram a circular na imprensa, ele teve que se consultar com forças superiores: Deus e sua esposa, e que, depois disso, ele decidiu mudar o país – revelando não somente sua religião, mas também seu bom humor.

Conforme o discurso se tranformava de biografia a promessas de campanha, Obama se revelava cada vez mais um politico populista, bem ao estilo latino-americano. Ele falou sobre a saúde pública, a educação, a crise ambiental, e também sobre a “guerra contra o terrorismo”, chamando o presidente George W. Bush de orgulhoso e cabeça dura, o que arrancou mais aplausos da platéia.

O senador, que vestia calça preta e uma camisa social branca, com as mangas arregaçadas e a gola desabotoada, parecia confortável com suas propostas e sua legião de seguidores (fãs?). Falou por uma hora sob o sol quente e em momento algum leu o seu discurso. Obama também não usou "ponto no ouvido", o que já é uma vantagem se comparado ao atual presidente.

E ao final do discurso, o momento épico! Ninguém acreditou. Barack Obama desceu do palco, sem seguranças, e começou a apertar as mãos das pessoas da platéia. Mão grande, mas magra. Seus dedos são longos, e o aperto é firme. Acho que não estava nervoso, pois a palma de sua mão não parecia suada. Eu sei, pois apertei também! A esquerda, assim, por cima da aliança dourada de casamento. Parece besteira, mas eu gostei. E nunca vou esquecer esse dia, que de agora em diante será descrito como meu domingo no parque com Barack Obama! (Meu e de outras 8 mil pessoas. Mas isso é um mero detalhe).

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