Friday, June 1, 2007

Mal-estar da Civilização


Esta semana é faxina pura! Debaixo da cama, do sofá... Dentro dessa geladeira dentro da dispensa e do fogão... É que muito em breve eu mudo para a MINHA casa. Até o computador tá sofrendo uma limpeza geral. E as flah drives também. No meio desta bagunça eu achei este texto que escrevi há cerca de uma no! Um ano! Poxa vida... Enfum, modéstia parte, este texto é bem danadinho de bom, então, antes de apagar do computer, resolvi publicá-lo!

Aqui vai!

Em O Mal-estar da Civilização Freud nos mostra o agente movedor da insatisfação humana: Nascemos com um programa inviável que é atender aos nossos instintos, mas o mundo não o permite. Devido a isso, somos todos frustrados. Somos podados de todos os lados: faça isso e não aquilo, certo X errado, preto X branco. Devido a nossa contínua e imensa frustração desenvolvemos um mal estar crônico, que muitas vezes não podemos identificar - apesar de ele estar presente. É algo que nos incomoda como aquele dedo do pé quebrado há dez anos, mas que sempre dói antes de chover. De acordo com Lacan, discípulo de Freud - sofremos com a "falta." Particularmente, acredito que sofremos com o "excesso", que transforma-se no mal-estar geral da população.

Este mal estar generalizado dos seres humanos é conseqüência direta da atual sociedade de (ultra) consumo em que vivemos: a angústia e o sofrimento não são de maneira alguma resultados direto da falta, da proibição de nossos desejos, mas sim do excesso. Estamos rodeados de marcas de carro, de sapato, de corpos perfeitos, siliconados, robóticos, de faces plásticas, paralizadas por botox. O pior pesadelo dos últimos tempos é ir ao mercado comprar pasta de dentes para a nossa querida mãe: com ou sem flúor? Anti- bacteriana, ou contra o tártaro? Para os dentes sensíveis? Pasta clareadora? Socorro!!!

Freud nos deu três soluções para extinguirmos a dor: (A) desistir do desejo, (B) substituir o prazer ou (C) fugir da frustração. Teríamos então como alternativa: a religião; ou melhor ainda: a fuga da realidade através da loucura, ou do delírio coletivo (alguém disse Igreja Universal do Reino de Deus?). Mas convenhamos: não nos privamos de absolutamente nada. Tudo é válido na quitanda da sociedade de consumo. E muitas vezes pela metade do preço, se a mercadoria é (e por quê não?) pirata. Somos todos viciados - mas não necessariamente às drogas - somos sim, escravos do consumo. E ai de quem nos diga que isso é ruim. Os que se atrevem, nunca tiveram o prazer de comprar AQUELE produto que estava gritando o nosso nome da janela da loja de aparelhos eletrônicos.

Mais uma vez, não somos somente viciados em comprar, comprar, consumir, usar, jogar fora, comprara, comprar, compraaarrrr! Somos viciados em dinheiro, em fama, celebridade, vaidade, e da dita "beleza" ou da perfeição física e estética. Não somente consumimos produtos de beleza e cirurgias plásticas, como também consumimos programas de televisão sobre os consumidores desses "produtos"! Então, preenchemos nossa "falta" e curamos nosso mal estar, não com um sonrrisal, ou uma pílula mágica, mas com ... absolutamente tudo! E para quem acredita que não há como curar o mal estar e preencher a "falta" pelo menos (UFA!) a cada dia que passa, temos a satisfação de saber que nos falta o menos possível!

Nessa ciranda que vai, ciranda que vem, vamos seguindo a vida, fingindo sermos felizes pela capacidade de consumir e descartar bens materiais. Seguimos então, comprando, mas sempre assim, meio tontos, enjoados, com um certo mal estar... Arg, parem o trem, quero vomitar!

1 comment:

Minha Vírgula said...

Ótimo post moça, meu tcc é sobre cirurgias plásticas uma visão psicanalítica. Portanto muito Freud no corpo teórico do trabalho, inclusive o livro O mal estar na civilização.
Gostei bastante da sua articulação Freud mais hoje em dia - a cultura do excesso.

Vandia.